segunda-feira, 30 de abril de 2007

ESTILOS DE RAP

Os temas abordados no rap são diversos, pois o lema do rap é a liberdade de expressão. Podemos ouvir rap com discurso de denúncias sobre como o capitalismo destrói a vida de jovens da periferia, outros com o foco nas experiências individuais, familiares, outros grupos se preocupam em denunciar a violência e falar sobre os caminhos da criminalidade e outros procuram disseminar mensagens de interesse geral fora do circulo periférico. Como diz o ditado "cada um tem seu estilo". Esses estilos podem ser identificados pela forma de escrita e da produção adotado pelo artista. Algumas produções possuem arranjos tocados, outros sampleados e em outro casos podemos encontrar arranjos sampleados e tocados na mesma música. De acordo com cada estilo ou seguimento há uma predominância de elementos sonoros e instrumentos musicais e isso facilita a identificação de um seguimento e/ou estilo. Não existe uma tabela de classificação oficial para determinar o que é um estilo ou seguimento dentro do rap, mas ao meu ver (Neurus), o rap pode ser analisado e classificado da seguinte maneira:

a) Quanto a linguagem: secular ou gospel;
b) O seguimento: rap tradicional ou underground;
c) O estilo: identificando e analisando os elementos, técnicas aplicadas na produção, estilo da escrita e até mesmo a postura do grupo, podemos saber reconhecer o estilo: gangsta, bate-cabeça, tormento, canibal, pop, futurista e etc...
Vejamos a seguir as características que diferem um estilo de outro.

1) Linguagem

a) Rap Secular: Rap cantado por MCs não ligados a igreja ou a questões religiosas do cristianismo. O discurso pode até ser a favor do cristianismo, citar "Jesus" e suas palavras mas, a diferença do rap gospel para o rap secular é que, no segundo caso o MC e/ou o grupo de rap não insere em seu discurso um apelo evamgelistico segundo a doutrina de igreja, seja ela católica ou evangélica. Não é o foco principal.
b) Rap Gospel: Rap com discurso ligado à igreja e as questões religiosas do cristianismo, com apelo evangelístico, ou seja, pregações sobre viver em concordância com os princípios cristãos segundo a visão da igreja (católica ou evangélica).
2) Seguimentos e estilos
Dentro de cada seguimento o MC (mestre de cerimônia) ou o grupo de rap possui uma identidade musical revelada por sua forma única de expressão. O rap é a reação da periferia contra o sistema opressor que gera a miséria e que por consequência financia o crime. Mostrar o problema na sua raiz com rimas ásperas e sem maquiagem. Mas o rap não é só isso. Existem várias vertentes do rap. Segue abaixo alguns desses estilos, seguimentos e suas definições.
Rap Tradicional: O rap tradicional é semelhante ao rap gangsta. Se difere somente em alguns aspectos. Protesto, denúncia, crime, violência, problemas sociais e raciais, política e exclusão social são temas comuns no rap. A diferença é a forma de retratá-los. O rap tradicional pode ser comparado a uma versão mais popular do gangsta ou até mesmo a um livro de auto-ajuda com relatos sobre o dia a dia vivido na periferia. As produções (bases) não contém muitos "enfeites" (viradas e repiques de bateria, breques e etc) assim como no rap gangsta. São produções simples que segue uma métrica "quatro por quatro". Os samplers são utilizados em forma de loopings, ou seja, inserindo trechos instrumentais de funk, soul e/ou rock, que se repetem geralmente do primeiro ao quarto compasso.
No seguimento gangsta temos:

Gangsta: Retrata assuntos ligados ao crime, drogas, acerto de contas, lei das ruas, polícia, bandido, favela e etc. A maioria das musicas de rap gangsta possue um ritimo mais lento, batidas pesadas com predominância de bumbo e baixo em relação aos outros instrumentos. Existem raps gangstas com ritmo acelerado também, mas o peso, o assunto e a sonoplastia de tiros, sirenes e outros elementos são características próprias desse estilo. Apesar de não conter um tom de ironia e sim um discurso áspero e direto, o estilo das letras pode ser comparado a um samba de raíz de "Bezerra da Silva". É uma linguagem mais "malandreada" e com várias girias. O ritmo é bem envolvente tão quanto um "funk" ou um "soul music". Os temas retratam o crime de uma forma geral alertando e denúnciando os problemas ocorridos na periferia no intuito de que não permaneçam encobertos e sem solução. Princípios de sobrevivencia no gueto e em qualquer outro lugar como o respeito, sinceridade, atitude são lembrados constantemente e colocados como "lei". Problemas de repressão policial, tráfico, diferenças sociais, racismo e outros são colocados de forma direta no rap gangsta. Em casos isolados, algumas letras atacam outros grupos, estão relacionadas abrigas de gangs, situações vividas na noite, nos becos e etc. No rap cada um expressa o que vive. Quem ouve, tira suas conclusões e absorve o que lhe convém.

P.I.M.P.: É muito presente nos EUA. É o rap gangsta moderno, digamos assim. As bases do Rap P.I.M.P. contém timbres eletrônicos e de forma simples é dada mais prioridade ao balanço e a marcação de bumbos e caixas. O assunto das letras tem o foco em dinheiro, mulheres, sexo, brigas de gangs e curtição em clubes e bordéis. Costuma-se dizer que é o estilo dos cafetões dos Eua. Existe um ou mais rapper no brasil que se intitula P.I.M.P., mas com certeza, a condição financeira dos Rappers Norte-Americanos são absurdamente diferentes em relação aos Rappers brasileiros.

Seguimento Underground temos:

Underground: Esse estilo é o rap de raiz. O rap gangsta, no início, também tinha uma característica underground. Trata-se de uma construção musical mais simples, resumida, com batidas e samplers usados das formas mais inusitadas possíveis. Esse samplers são inseridos entre as batidas do rap underground de uma maneira que desafia qualquer regra musical no que se diz respeito ao tempo e compasso. É um verdadeiro quebra cabeça. Vários "cortes", alteração de tons e outras técnicas são aplicadas para chegar no resultado esperado. Por mais simples que aparente, esses trechos musicais passam por várias transformações até darem origem a uma nova sonoridade adaptando-se ao novo ritmo. O rap underground é caracterizado também pelo uso de scratch e principalmente colagens de discursos, poemas, manifestos e até mesmo trechos de outras musicas, geralmente no início da música. Um rap underground ser criado com um bit (batida) mais acelerada como o bate-cabeça, mas é possíevel identificar facilmente a diferença entre ambos.

Bate-Cabeça: Surgiu no Brasil em meados de 1993. Os grupos que introduziram oficialmente o estilo aqui no Brasil foram "Código 13, Doctors Mc’s e RPW". Bate-Cabeça é a mistura de rap com Hard-core. Essa é uma das definições para o estilo, mas o caso é que, elementos musicais característicos do rock (para que haja essa fusão com hard-core) são raros no bate-cabeça. O grupo Código 13 é uma excessão por ser o primeiro grupo brasileiro que registrou fonograficamente essa fusão rap e rock. O Bate-Cabeça de Doctors Mcs e RPW se difere dos outros estilos de rap pelas batidas aceleradas e ruídos psicodélicos de moogs eletrônicos que aparecem aos pedaços em algumas musicas. Pular, agitar, liberar energia, andar de skate, bike e outras atitudes estão ligadas ao Bate-Cabeça.
Futurista: Futurista é mais uma ideologia do que estilo. É a forma de escrever e fazer o rap.
Outros estilos (bate-cabeça e tormento por exemplo) também podem ser reconhecidos como rap futurista. Na verdade, não há registro de quando exatamente surgiu o rap futurista no brasil, mas podemos entender da seguinte maneira: a partir do momento que um grupo (ou mc) resolveu explorar novos temas, com novas técnicas de expresão e produção, nasceu o rap futurista. O grupo "Potencial 3" por exemplo, com suas linguagem e ritmo inovador, revolucionou o rap no final dos anos 90 com um estilo diferente influenciado pelos grupos americanos cujo estilo era denominado como "Flaver". Um grupo que com certeza marcou essa época foi o "Lideres Of the New School, que revelou "BustaRhymes".
Futurista é o nome que se dá aos raps cujos temas não se limitam aos fatos ocorridos na periferia e sim temas que dizem respeito aos seres humanos, a vida, ao espírito, metas, sonhos e etc.
O intuito é eliminar toda postura e pensamento pessimista. A primeira manifestação do termo "rap futurista" que se tem conhecimento foi feita pelo grupo do Ipiranga (Zona sul de São Paulo) "Elementos da terra" no CD "Então confirma" - Musica: Desabafo. Mais tarde o termo foi utilizado pelo grupo guarulhense "SNJ" e virou programa de rádio (hip-hop futurista) na Difusora FM - 87,7 .
Estilo Tormento: Nova proposta vocal, novo conceito de utilização e manipulação de sampler, entre outras características e contribuições, representam a importancia desse seguimento que influenciou o surgimento de uma nova geração de rappers que, em meados dos anos 90, começou a ganhar espaço no brasil. Era o início do rap underground. Um dos braços do estilo underground é o polêmico Estilo tormento. O Grupo "Seres Mortais", (criado e liderado por Neuru’s - Grupo Transfusão) lançou o estilo tormento em 1994 que se oficializou com a gravação da música “Gritos de agonia” na coletânea “Fast Rap I” da gravadora "Maracanã" e hoje tem vários adeptos. As principais características do “Estilo tormento” são: vozes impostadas que se intercalam e se misturam no decorrer das musicas, coro de vozes graves e fortes e bases criadas com samplers de orquestras e vozes de canto erudito, ataques de metais, ruídos sinistros, violinos e pianos. Essa construção musical “mística” retrata em versos rebuscados, a vida no que se refere ao estado de espírito e da mente. Temas que tocam a consciencia e mexem com a emoção com intuito de transmitir mensagens positivas. Com o fim dos dois grupos (Seres Mortais e Fúria Verbal) surgiu o grupo Transfusão que mantém acesa a chama deste seguimento até os dias de hoje. Sua representatividade é respeitada e reconhecida por se tratar de uma proposta que não morreu com o fim dos dois grupos. Neuru's e Proffessor (Seres Mortais), Zuripa e K. de Kco (Fúria verbal) e DJ Fhak (Ex Camorra) comporam a primeira formação do grupo Transfusão a qual deu-se origem ao primeiro CD "A sinapse" no quarto ano de atividade. A forma psicodélica e sinistra de expressão dos grupos de rap estilo tormento se destaca pelo cenário musical criado nas letras e a performance de palco "teatral". As Letras são como a voz da consciência que alerta e sugere a mudanças. As parábolas e as metáforas são técnicas essenciais para este “cenário sonoro”.
Rap Pop
Curiosamente, existe o que eu posso chamar de Rap Pop
Artistas como Gabriel o Pensador e Marcelo D2 são os ícones do rap pop que mistura swing brasileiro e possui uma sonoridade mais "afinada" aos padrões musicais. Isso porque são produzidos em estudios de grande porte e por profissionais do ramo que padronizam e tornam a musica mais 'atraente" para as rádios e a televisão. Descaracteriza-se nesse processo a essência do rap e ao mesmo tempo não deixa de ser ritmo e poesia. Daí o nome Rap Pop.
Outras informações:

Bases
Instrumentais de rap

Sampler
São trechos extraídos de uma musica qualquer que são encaixadas na criação de outra musica. Descontextualizar, reciclar, criar a partir de uma outra criação. A arte de samplear tem muito haver com o famoso as obras de Marcel Duchamp que ao descontextualizar bruscamente o objecto do seu universo funcional apagava qualquer princípio formal de adequação entre a sua forma e a sua função. "Marcel Duchamp" foi um dos fundadores de movimento Dada que sacudiu o mundo das artes no início do vigésimo século. O movimento pregava a não-arte.
Foi na rasteira do Dadaísmo que nasceu o surrealismo e até mesmo oneoconcretismo de quebra serviu como moldura para a Tropicália (Brasil, final da década de 60).
Duchamp foi o mais famoso e vigoroso praticante do movimento Dada mas preferiu viver nos Estados Unidos, uma arte de reclusão – daí essência da não-arte, o supra-sumo do movimento. Na verdade, Duchamp passeou como poucos artistas em quase todas as correntes artísticas do século 20. E não dava a mínima para rótulos ou qualquer tipo de pragmatismo. "
Fonte: http://www.eletronicbrasil.com.br/materiasarq.asp?Cod=8

O sampler pode ser utilizado de forma simples ou complexa.
A forma simples resume-se em separar um "Looping" de uma musica e adaptá-la ao ritmo do rap. Nesse caso, outras partes da mesma musica (ou de outra qualquer) podem ser adicionadas ao rap para complementar o refrão ou partes de destaque da musica a ser produzida.
No caso da forma de utilização complexa de um sampler não necessariamente o trecho a ser extraído precisa ter no mínimo quatro tempos. Um trecho sampleado pode ser adaptado de várias maneiras na musica a ser produzida. O produtor de rap underground utiliza-se dessas técnicas na produção das bases. O sampler também pode ser tocado, ou seja, a parte extraída de outra musica (sampler) é enviada ao computador e através de um programa específico de produção e um controlador midi (teclado musical específico para computador) é possível controlar esse sampler como se fossem notas musicais. O controlador determina a tonalidade do sampler que pode ser tocado em cima dos bits (batidas) do rap, descontextualizando e criando nova sonoridade.

Looping: ou seja, um trecho instrumental de de no mínimo quatro tempos a qual o quarto tempo se imenda com o primeiro formando o looping, repetição).

Considerações finais: Independente do estilo, do seguimento do rap, o importante é que a mensagem pregada não se perca nas ondas do modismo e nem perca sua consistência. Rap é rap! No brasil, existem pessoas capacitadas o bastante para produzir trabalhos realmente excelentes sem que pra isso tenham que se "vender", ou melhor, deixar de lado o teor informativo e a postura original do rap como os norte-americanos e passar a defender um discurso vazio com interesses financeiros. Existem formas inteligentes de se ganhar dinheiro e esse é o caminho que devemos trilhar - os guerreiros. Muitos já estão mudando o discurso. Não é errado falar de festa, de namoro, de mullher e etc, mas não podemos deixar que esses assuntos predominem e ofusquem o discurso de protesto social. E se o tema de alguns rappers se resume em bebidas, orgias, rebolação e outras patifarias, estes não merecem o título de rappers, pois mesmo o rap sendo liberdade de expressão, existe um parâmetro, um limite. Rap não é axé e liberdade não é libertinagem.

Visitem o site www.myspace.com/neurustransfusao


Muito obrigado aos que dedicaram seu tempo nessa leitura!


5 comentários:

Landis disse...

Gostei da matéria!

Unknown disse...

DE menos crime fOI o primeiro rard core!!!!!!!

Anônimo disse...

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